domingo, 1 de dezembro de 2013

ELEMENTOS DA DIALOGICIDADE SEGUNDO PAULO FREIRE


UFC - Universidade Federal do Ceará
Instituto UFC Virtual
Pró-Reitoria de Pós-Graduação
Coordenadoria de Pesquisa, Informação e Comunicação de Dados
Divisão de Planejamento e Ensino
Curso: CFCT - Curso de Formação Continuada de Tutores Turma 2013/2
Turma: T-31 - Química
Aula 03 -  Compartilhar exemplos dos elementos da dialogicidade segundo Paulo Freire
Professor Formador: Fernando Antônio de Castelo Branco e Ramos
Cursista: ANA MARIA DE QUEIROZ
Data: 02/12/2013  

 

Paulo Freire. Foto: Mauricio Nahas
Paulo Freire: Patrono da Educação Brasileira
 

Paulo Reglus Neves Freire, nasceu em Recife em 19 de setembro de 1921 e faleceu em São Paulo em 2 de maio de 1997.  É considerado o mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais.  Os conceitos em seu livro "Pedagogia do Oprimido" baseiam boa parte do conjunto de sua obra. Para ele, não existe educação neutra, educar é um ato político.





Segundo David e Castro Filho (2009), "O diálogo freiriano possui 5 pressupostos que norteiam a comunicação educador-educando: amor, humildade, fé nos homens, esperança e um pensar crítico." Em seu livro "Pedagogia do  Oprimido", Paulo Freire nos fala desses pressupostos:

 Amor

"Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor ao mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não há, amor que a infunda.
Somente com a supressão da situação opressora é possível restaurar o amor que nela estava proibido.
Se não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os homens, não me é possível o diálogo." (FREIRE, 1987, p.45)

O amor é um sentimento imprescindível nas relações humanas, pois, quando amamos, ficamos aberto às trocas.  
Creio que para cumprir o papel de educador, o professor deve amar os seus alunos, no sentido de querer o melhor para eles.  Para isso, deve buscar conhecê-los através do diálogo.  E nesse processo dialógico deve intervir e favorecer o processo ensino aprendizagem.
O professor estará agindo com amor ao se colocar à disposição dos alunos, seja para ouvir suas colocações e/ou questioná-las,  sem querer impor sua forma de pensar, respeitando o pensamento do aluno.
Muitas vezes, em nossas atividades em sala de aula, nos deparamos com alguns alunos que vêm com alguns problemas pessoais e, muitas vezes, pedem a nossa ajuda ou nossa opinião para superar o problemas.  Creio que ouvi-los e procurar orientá-los é um ato de amor.

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Humildade

"Não há, por outro lado, diálogo, se não há humildade. A pronúncia do mundo, com que os homens o recriam permanentemente, não pode ser um ato arrogante.
O diálogo, como encontro dos homens para a tarefa comum de saber agir, se rompe, se seus pólos (ou um deles) perdem a humildade.
Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim?
Como posso dialogar, se me admito corno um homem diferente, virtuoso por herança, diante dos outros, meros “isto”, em quem não reconheço outros eu?
Como posso dialogar, se me sinto participante de um “gueto” de homens puros, donos da verdade e do saber, para quem todos os que estão fora são “essa gente”, ou são “nativos inferiores”?
Como posso dialogar, se parto de que a pronúncia do mundo é tarefa de homens seletos e que a presença das massas na história é sinal de sua deterioração que devo evitar?
Como posso dialogar, se me fecho à contribuição dos outros, que jamais reconheço, e até me sinto ofendido com ela?
Como posso dialogar se temo a superação e se, só em pensar nela, sofro e definho?
A auto-suficiência é incompatível com o diálogo. Os homens que não têm humildade ou a perdem, não podem aproximar-se do povo. Não podem ser seus companheiros de pronúncia do mundo. Se alguém não é capaz de sentir-se e saber-se tão homem quanto os outros, é que lhe falta ainda muito que caminhar, para chegar ao lugar de encontro com eles. Neste lugar de encontro, não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há homens que, em comunhão, buscam saber mais" (FREIRE, 1987, p.46).

A humildade permite a troca nas relações, uma vez que percebemos que não sabemos de tudo e que o outro pode contribuir com algo, pois ele enxerga de um outro ângulo.  Se uma pessoa acha que o outro não tem nada a contribuir, então não é necessário o diálogo, a troca.  
 No mundo em que vivemos, há uma divisão do trabalho.  Essa divisão tornou-nos mais dependentes uns dos outros.  Eu dependo de várias pessoas que plantam cereais, verduras, legumes, frutas para que eu possa me alimentar.  Se precisar de conhecimento sobre plantio posso consultar livros especializados, mas devo também consultar o agricultor, ele pode ter (e deve ter) algum conhecimento que possivelmente ainda não esteja nos livros.
Escutamos que muitos dos princípios ativos patenteados são de pesquisas realizadas a partir de relatos de pessoas comuns cujo conhecimento foi adquirido oralmente, proveniente de seus antepassados.
Quando o professor reconhece que ainda tem muito a aprender e se coloca aberto à novas aprendizagens, às trocas de conhecimento e experiências com seus alunos, creio que ele esteja praticando a humildade.


 Fé nos homens

"Não há também, diálogo, se não há uma intensa fé nos homens. Fé no seu poder de fazer e de refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação de ser mais, que não é privilégio de alguns eleitos, mas direito dos homens.

A fé nos homens é um dado a priori do diálogo. Por isto, existe antes mesmo de que ele se instale. O homem analógico tem fé nos homens antes de encontrar-se frente a frente com eles. Esta, contudo, não é uma ingênua fé. O homem dialógico, que é critico, sabe que, se o poder de fazer, de criar, de transformar, é um poder dos homens, sabe também que podem eles, em situação concreta, alienados, ter este poder prejudicado. Esta possibilidade, porém, em lugar de mata no homem dialógico a sua fé nos homens, aparece a ele, pelo contrário, como um desafio ao qual tem de responder. Está convencido de que este poder de fazer e transformar, mesmo que negado em situações concretas, tende a renascer. Pode renascer. Pode constituir-se. São gratuitamente, mas na e pela luta por sua libertação. Com a instalação do trabalho não mais escravo, mas livre, que dá a alegria de viver.

Sem esta fé nos homens o diálogo é uma farsa. Transforma-se, na melhor das hipóteses, em manipulação adocicadamente paternalista.

Se a fé nos homens é um dado a priori do diálogo, a confiança se instaura com ele. A confiança vai fazendo os sujeitos dialógicos cada vez mais companheiros na pronúncia do mundo. Se falha esta confiança, é que falharam as condições discutidas anteriormente. Um falso amor, uma falsa humildade, uma debilitada fé nos homens não podem gerar confiança. A confiança implica no testemunho que um sujeito dá aos outros de suas reais e concretas intenções. Não pode existir, se a palavra, descaracterizada, não coincide com os atos. Dizer uma coisa e fazer outra, não levando a palavra a sério, não pode ser estímulo à confiança." (FREIRE, 1987, p.46)

De acordo com a Wikipedia (2013) "dialogo significa a troca de intervenientes, que podem ser dois ou mais. Embora se desenvolva a partir de pontos de vista diferentes, o verdadeiro diálogo supõe um clima de boa vontade e compreensão recíproca".  Presumimos que é necessário ao diálogo que aceitemos a fala do outro como verdadeira, ou seja, que as pessoas digam o que realmente pensam. Ou seja, no diálogo, devemos ter fé nos homens, acreditar no que eles estão nos afirmando, caso contrário a troca não ocorrerá.
Em nossas salas de aulas nos deparamos, muitas vezes, com situações em que devemos ter fé nos nossos alunos.  Às vezes, eles não fazem uma atividade e/ou pedem para adiarmos uma atividade por algum motivo.  Até que se prove o contrário, devemos ter fé em nossos alunos, pois no relacionamento educador/educando deve imperar a confiança.


Esperança

"Não é, porém, a esperança um cruzar de braços e esperar. Movo-me na esperança enquanto luto e, se luto com esperança, espero.
Se o diálogo é o encontro dos homens para Ser Mais, não pode fazer-se na desesperança. Se os sujeitos do diálogo nada esperam do seu que fazer já, não pode haver diálogo. O seu encontro é vazio e estéril. É burocrático e fastidioso" (FREIRE, 1987, p.47).

Creio que a esperança esteja bastante vinculada com a fé nos homens, pois se tivermos fé nos homens, desenvolvemos um sentimento de esperança.
De acordo com a Wikipedia (2013a) "Esperança é uma crença emocional na possibilidade de resultados positivos relacionados com eventos e circunstâncias da vida pessoal. A esperança requer uma certa perseverança, isto é, acreditar que algo é possível mesmo quando há indicações do contrário. O sentido de crença deste sentimento o aproxima muito dos significados atribuídos à fé".  
Devemos ter esperança que nossas intervenções consigam produzir bons resultados.  Ter esperança que nossos alunos se dediquem em seus estudos. Ter esperança que consigamos contribuir para o desenvolvimento das pessoas com quem dialogamos.

 Pensar crítico

"Finalmente, não há o diálogo verdadeiro se não há nos seus sujeitos um pensar verdadeiro. Pensar critico.
Pensar que, não aceitando a dicotomia mundo-homens, reconhece entre eles uma inquebrantável solidariedade.
Este é um pensar que percebe a realidade como processo, que a capta em constante devenir e não como algo está,tico. Não se dicotomiza a si mesmo na ação. “Banha-se” permanentemente de temporalidade cujos riscos não teme.
Opõe-se ao pensar ingênuo, que vê o “tempo histórico como um peso, como uma estratificação das aquisições e experiências do passado”, de que resulta dever ser o presente algo normalizado e bem comportado.
Para o pensar ingênuo, o importante é a acomodação a este hoje normalizado. Para o critico, a transformação permanente da realidade, para a permanente humanização dos homens. Para o pensar crítico, diria Pierre Furter, “a meta não será mais eliminar os riscos da temporalidade, agarrando-se ao espaço garantido, mas temporalizar o espaço. O universo não se revela a mim (diz ainda Furter) no espaço, impondo-me uma presença maciça a que só posso me adaptar, mas com um campo, um domínio, que vai tomando forma na medida de minha ação”.
Para o pensar ingênuo, a meta é agarrar-se a este espaço garantido, ajustando-se a ele e, negando a temporalidade, negar-se a si mesmo.
Somente o diálogo, que implica num pensar critico, é capaz, também, de gerá-la.
Sem ele, não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação. A que, operando a superação da contradição educador-educandos, se instaura como situação gnosiológica, em que os sujeitos incidem seu ato cognoscente sobre o objeto cognoscível que os mediatiza"  (FREIRE, 1987, p.47).

O pensar crítico, algo que devemos aplicar em nossa prática pedagógica.  Algo que procuramos desenvolver em nós mesmos e contribuir para desenvolver no outro.  Algo em construção.
Quando desenvolvemos o nosso pensamento crítico, já não aceitamos a informação de forma passiva, mas questionando e procurando intervir de alguma forma.

REFERÊNCIAS 

DAVID, P.B.;CASTRO-FILHO, J.A. A dialocigicidade em práticas interativas da área de exatas. In: XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação, Florianópolis, 2009.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

WIKIPEDIA (2013). Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Di%C3%A1logo>. Acesso em:01/12/2013.

WIKIPEDIA (2013a).Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Esperan%C3%A7a>.Acesso em:01/12/2013.

Um comentário:

  1. Ana,
    Muito bom o seu texto, principalmente as relações que você fez sobre os 5 pilares de Paulo Freire, e comentou cada um. Gostei de todos, mas o que chamou-me mas a atenção foi o tópico sobre o Amor, em que você relatou no final da frase: existem muitos alunos com problemas pessoais, e pedem nossa ajuda, creio que ajudá-los é um ato de amor! Você utilizou-se de uma sensibilidade enorme! Muito bom o seu blog!Parabéns!
    Regina Célia

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